Entreouvido durante o incêndio da UFRJ

Eram pouco mais de quatro horas da tarde quando eu observava, da janela, o desastre do incêndio no Palácio. Do lado de fora, uma multidão de alunos, professores, funcionários e jornalistas, em meio a policiais, bombeiros e guardas municipais. Curiosos de plantão da geração 2.0 clicavam tudo com seus celulares-máquina-fotográfica. “Chega”, pensei comigo mesmo. “Hora de ir para casa.”
Antes de encontrar as chaves, no entanto, fui surpreendido por uma batida na porta. Não consegui imaginar quem poderia ser. Abri e, surpreso, me deparei com um homem magro e irrequieto de meia-idade que carregava uma pesada câmera na mão esquerda. Já fazendo menção de entrar, foi logo se apresentando. “Sou da TV Globo”, explicou, cheio de si, como se aquela frase fosse seu passe-livre. Ingenuamente, disse que queria fazer uma tomada do incêndio dali. A vista da janela do PET de fato era privilegiada. Ninguém lá embaixo teria uma imagem tão boa quanto a de lá, o repórter fora esperto. “Não são nem dois minutos”, disse.
Fiz uma pausa antes de responder, só para esticar um pouquinho mais aquele momento. “Hum…”, comecei. “Estou saindo e não posso deixar você entrar.” Ele estacou. Por essa não esperava. “Mas é só uma tomada, é rapidinho, menos de um minuto!”, rogou, exasperado. “Não, sinto muito. Não vou deixar você entrar não.” Ele insistiu, incrédulo: “Mas são só trinta segundos e pronto!”
Quando ele percebeu que não tinha jeito, perguntou quantos anos eu tinha. “Vinte”, respondi. “Você vê televisão?” “Não, não tenho televisão em casa”, respondi enquanto pegava minhas coisas, ao que ele deu o veredito: “Você é um alienado…” Dei um sorriso. “Eu? Me desculpa, mas alienado é o seu trabalho e o que vocês fazem.”
Ele me deu as costas e foi-se embora. Eu respirei fundo.

Eram pouco mais de quatro horas da tarde quando eu observava, da janela de um núcleo de pesquisa da Escola de Comunicação da UFRJ, o desastre do incêndio no Palácio Universitário. Do lado de fora, uma multidão de alunos, professores, funcionários e jornalistas, em meio a policiais, bombeiros e guardas municipais. Curiosos de plantão da geração 2.0 clicavam tudo com seus celulares-máquina-fotográfica. “Chega”, pensei comigo mesmo. “Hora de ir para casa.”

Antes de encontrar as chaves, no entanto, fui surpreendido por uma batida na porta. Não consegui imaginar quem poderia ser. Abri e, surpreso, me deparei com um homem magro e irrequieto de meia-idade que carregava uma pesada câmera na mão esquerda. Já fazendo menção de entrar, foi logo se apresentando. “Sou da TV Globo”, explicou, cheio de si, como se aquela frase fosse seu passe-livre. Ingenuamente, disse que queria fazer uma tomada do incêndio dali. A vista da janela da sala de fato era privilegiada. Ninguém lá embaixo teria uma imagem tão boa quanto a de lá, o repórter fora esperto. “Não são nem dois minutos”, disse.

Fiz uma pausa antes de responder, só para esticar um pouquinho mais aquele momento. “Hum…”, comecei. “Estou saindo e não posso deixar você entrar.” Ele estacou. Por essa não esperava. “Mas é só uma tomada, é rapidinho, menos de um minuto!”, rogou, exasperado. “Não, sinto muito. Não vou deixar você entrar não.” Ele insistiu, incrédulo: “Mas são só trinta segundos e pronto!”

Quando ele percebeu que não tinha jeito, perguntou quantos anos eu tinha. “Vinte”, respondi. “Você vê televisão?” “Não, não tenho televisão em casa”, respondi enquanto pegava minhas coisas, ao que ele deu o veredito: “Você é um alienado…” Dei um sorriso. “Eu? Me desculpa, mas alienado é o seu trabalho e o que vocês fazem.”

Ele me deu as costas e foi-se embora. Eu respirei fundo. Às vezes, é o dia da caça.

28 comentários sobre “Entreouvido durante o incêndio da UFRJ”

  1. otimoooooooo!! hahahaha

    queria estar no seu lugar!!

    nao eh todo dia que se tem a oportunidade de fechar a porta na cara da globo, apesar de nunca lhe dar audiencia, deve ser muito bom fazer isso pessoalmente. rs

    mas o mais engracado foi ele chamando VC de alienado!! HAHAHAHAHAHAHA… soh posso ter pena de uma criatura dessa…

    valeu 😉

  2. Mas olha só o moleque leite-com-pera de esquerda barrando o cinegrafista da Globo (provavelmente, muito mais fodido financeiramente que ele, velho, com família pra sustentar e o caralho) e achando que tá sendo muito MACHO e contra a “alienação da grande mídia”. Parabéns!

  3. Independente do veículo, que feio um aluno da ECO impedindo um colega de fazer o seu trabalho. Que atitude arrogante e sem propósito. Não vejo o que você ganhou com isso.
    Triste dia mesmo, em que um incêndio tira da UFRJ a última coisa que restava – seu patrimônio físico. Porque a qualidade dos alunos, pelo visto, já tinha ido pro buraco.

  4. Regina, vamos reestabelecer os fatos, com todo o respeito:

    1. A posição do “profissional” da Globo é absurdamente arrogante. Como todos nós sabemos, se é Globo não precisa pedir pra entrar…

    2. Pera lá, colega que nada. Está defendendo os interesses das Organizações Globo, que entram quase que exclusivamente nos lugares para buscar tragédia. O grupo de pesquisa do qual o Ricardo faz parte, o PET-ECO, faz eventos há quase uma década, e a Globo NUNCA esteve lá.

    3. A atitude tem um propósito muito simples. O Ricardo estava de saída. Por que filmar é mais importante? Não é. Quem quiser, está livre para interpretar que é. Ele teve a liberdade de achar que não. Perceba a humildade das respostas e a estupidez do “colega” em julgá-lo “alienado” por ter 20 anos. Ricardo é um dos estudantes mais brilhantes da ECO, todos que frequentam a Escola sabem disso.

    4. Lembro da última vez que qualquer representante das Organizações Globo esteve lá. Era eu ainda da graduação, hoje estou no doutorado. Foi comigo e, por coincidência, com o outro editor desta revista, o Renato Kress. A ‘Megazine’ (do jornal) queria fazer uma matéria sobre “Ciberativismo”. Eramos dois, achavam eles. O repórter sequer foi.

    Foi apenas o fotógrafo, para fazer o que se chama no jornalismo de “fake”. E ele queria fazer literalmente um “fake”: pediu para que fizéssemos “cara de bravo” ou algo assim, porque ativistas são bravos, como vocês sabem. Nós sorrimos, sem acreditar. É algo que nós ativistas sociais fazemos muito: sorrir.

    5. A Globo precisa da nossa sala, possuindo como possuem um helicóptero, o “Globocop”? Não precisam. O “colega” chegou cheio de arrogância e saiu com seu preconceito idiota contra jovens. Não o conheço, mas já não é meu “colega”.

    6. O raciocínio dele foi perfeito, na minha concepção. Alienado não é, como reduziu grotescamente o cidadão, uma determinada pessoa. É, como registrou Ricardo, o trabalho dele e o que eles fazem. Veja que o Ricardo sequer o chamou de alienado. De fato, uma pessoa se aliena – este não é um Estado natural, e sim uma ação cotidiana. Como estas, em que repórteres mal pagos correm atrás de tragédias para lucrar em cima da desgraça dos outros.

    Que a Globo venha mais vezes, atrás também das propostas da universidade.

    Cordialmente.
    Gustavo Barreto
    Doutorando ECO-UFRJ

  5. Realmente, acho que foi desnecessário não deixá-lo gravar, mas daí a ex-aluna, Regina Montenegro, afirmar que a qualidade dos alunos ‘foi pro buraco’ é usar de metonímia barata. Mais respeito, né?

  6. Realmente ele não foi alienado de não deixar o rapaz fazer seu trabalho Foi pura e simplesmente espírito de porco. Total má vontade. Agora, aposto que o Ricardo não achou que o tal repórter estava quase entrando sem ser chamado antes de saber que ele era da Globo. Foi só birrinha porque é modinha ser de esquerda e odiar a Globo.
    Trabar na Globo é sim uma credencial, assim como nós usamos a credencial de estudar na UFRJ. O Gustavo não fez questão de colocar “Doutorando ECO-UFRJ” no fim do comentário dele? Pertencer a melhor (ou a uma das melhores) organização do seu ramo (no caso dele, comunicação, no nosso, estudo) é motivo de orgulho e de status. E não há problema algum de você usar de tal status, afinal é algo que ele conseguiu alcançar.
    Concordo com a Regina no ponto de que o Ricardo impediu o companheiro de fazer o trabalho dele. E acho que foi sem necessidade. Afinal, como disse o Ricardo no texto, ele simplesmente resolveu ir para casa porque “encheu o saco”, não porque tinha algum compromisso importante ou muitas tarefas para fazer no lar. No fim das contas, não passou de má vontade e espírito de porco.
    E para não falarem que os pró Globo não se indentificam, me chamo Diego Ferreira e faço Economia na UFRJ

  7. Ah! E concordo PRINCIPALMENTE no ponto que a Regina diz que o repórter provavelmente tem pior situação financeira que o nosso revoltadinho Ricardo. O cara precisa do trabalho para sobreviver e sustentar a familia. Mas voce provavelmente não leva isso em consideração, visto que não tem tais preocupações. Molecagem, e ainda se acha cult. Pode não ser alienado, mas não tem NENHUM senso de coletividade e pouco se importa com a vida do rapaz.
    Continue assim que o mundo gira..

  8. Tão ruim quanto os “alienados” que cultuam a Globo tanto quanto os jovens da “geração 2.0” (aka. geração Y) cultuam buscas no google (incluo-me), são os que acham que se situar no extremo oposto é saudável.

    Além da questão de o reporter possivelmente ser alguem de familia (ou não teria a insegurança de se esconder atras do “olho de horus” – presumo que você, enquanto antiglobal, deva curtir essas conspirações), você foi egoísta a ponto de saber que a vista, certamente, era melhor possível e não ter deixado alguém da mídia filmar. Por que só você pode ver isso?

    E por que você se sente como caça? Quem virou carne de leão, agora, é o pobre reporter, que pode ser mastigado pelos chefes e cuspido no olho da rua.

  9. Porém, infelizmente, as respostas do reporter justificaram sua opção.

    Será que ser arrogante é uma das características que a globo procura ao contratar alguém?

    E sobre “ser alienado”, alguém que vai contra TUDO O QUE A GLOBO FAZ, também é. Alienado é quem não pensa com a própria cabeça. E existe um grupinho de pessoas condicionado a sempre pensar contra a globo, não importa se certos ou não.

  10. sou nordestino e pra globo eu não existo!!!
    Esse que é modinha ser de esquerda e ser contra a globo só tem uma explicação, cada ve mais pessoas estão tendo acesso a informação e formação de qualidade.

  11. Olha, concordo que o repórter poderia ter sido bem menos rude. Mas também não achei nada justa a atitude do Ricardo. Como o Diego disse, ele não estava com pressa para um compromisso importante, poderia ter, por sua vez, para se diferenciar do repórter se quisesse, ter sido cordial e o deixado filmar. Assim como o repórter o julgou como um “jovem alienado” por não ter televisão em casa, ele o julgou como um “profissional alienador” só pelo fato de ele trabalhar na Globo. E eis mais um ponto em que concordo com o Diego e com o Gustavo: existe um grande modismo de ir contra tudo que a Globo faz, um modismo imbuído de hipocrisia. Não estou dizendo que todas as pessoas que pensam assim vão com a massa, mas é preciso saber que o que acaba se fazendo é “olho por olho, dente por dente”: generalização de ambos os lados.

  12. Nem todos os que trabalham na TV Globo são “marionetes da manipulação alienadora”. Muitos procuram fazer bem o seu trabalho, e tem a intenção de informar bem a sociedade. Assim como nem todos que trabalham em Caros Amigos, Carta Capital, Band, TV Cultura, Veja e quaisquer outros meios de informação estão preocupados com a justiça social. Inclusive, acho que se fosse alguém de algum meio mais alternativo, o Ricardo não teria tanto problema em deixar filmar ou tirar uma foto. Esse hábito de se separar em clãs os “maus” dos “bons” é lamentável; em todos os recintos de trabalho do mundo existem pessoas de bom e também de mau caráter. O importante, como o Gustavo disse, é pensar por si mesmo, é buscar formar a própria opinião, tenha-se qualquer veículo como fonte.

  13. Quero muito comentar realmente o fato, mas são tantos aspectos interessantes na discussão que quero elaborar melhor. Agora, só uma coisinha que tá me inquietando muito!!
    “Virou modinha ser de esquerda e odiar a Globo”.

    Oi????????????

    Vocês vivem no mesmo país que eu? Onde a Globo tem uma audiência de MILHÕES de pessoas que assistem de Ana Maria Braga a BBB.

    Vocês acham mesmo que o fato de vocês terem começado a perceber que existem pessoas que criticam a Rede Globo como empresa e como veículo de comunicação e jornalismo (e isso porque vocês estão numa universidade, talvez numa escola de comunicação, etc. fora desse ambiente, as críticas diminuem, não por modismo, mas porque a Globo faz bem o que se propõe – cria consensos) significa que isso é moda? São incapazes de conceber uma crítica consistente à Rede Globo?
    Se vocês são aspirantes a jornalistas, se são da ECO e pensam assim… Que pena. Mais pena que na realidade não me admire…

    Vocês sabem o que é ser de esquerda? Vocês tem visto “muita gente, gente demais” por aí, se manifestando, lutando contra as desigualdades do nosso mundo, se organizando para tal, pensando e elaborando sobre o tema? Estamos próximos de uma mudança real?

    Por favor, me contem que lugar é esse onde a moda é ser de esquerda que é pra lá que eu vou!

  14. Diana, ao contrário do que você pensa, não são só as pessoas que são de esquerda que lutam por tudo isso que você disse. Inclusive, isso de ficar rotulando esquerda e direita é idiotice, porque há pessoas desses dois lados que se dizem defensoras do bem da sociedade e não são, como tem nos dois, pessoas de boa vontade. Não querer admitir isso é viver em um preconceito que impede qualquer melhora social, a qual depende de uma mobilização geral, independente das diferenças. E dentro da ECO é modismo, sim, não criticar a Globo, mas endemonizá-la, um modismo irônico se você parar pra perceber que muita gente fala, fala, mas se surge a oportunidade de um estágio lá dentro, corre pra ser selecionado; tanto é assim que a ECO é páreo duro com a PUC em números de estagiários da Rede Globo. E falando em BBB, que abomino tanto quanto você, conheço muitas pessoas de esquerda que o assistem e muitas pessoas de direita também, apenas um exemplo de denominador comum dos dois lados.

  15. Não compreendo essa identificação com o autor do texto.
    Pois não entendi a recusa do autor como um ato político, pelo contrário, soou para mim um ato chauvinista, de motivação apenas egoística.
    Corroborou para a minha impressão o fato de o acontecimento ter sido escrito e narrado com tons novelescos pelo autor, e depois divulgado a bel prazer a estes veículos virtuais de comunicação.
    No aspecto simbólico, talvez isso tenha uma certa importância para alguns; para estes, uma recusa a um indivíduo (este que ocupa as posições mais baixas da hierarquia de poder e influência da instituição) pode representar uma recusa a uma instituição muito mais complexa e maior do que este.
    Para mim, não.
    Para mim soou como mera grosseria desnecessária, na medida em que o autor deixa claro no texto sua atitude com o seu interlocutor.
    Também para mim não ficou muito clara a “posição absurdamente arrogante” do profissional (até o momento do embate entre “alienado” e “alienador”), tendo como base o texto, uma descrição enviesada e mal intencionada da situação. Considero mais do que natural e até mesmo recomendável eu diria, o profissional da Globo se apresentar e dizer à qual empresa ele pertence.
    Enfim, me perdoem a rabugem, mas não consigo pactuar e me empolgar com a idéia de que uma recusa a uma mera filmagem de um incêndio possa representar algo nobre e valoroso, uma vez que não é um ato árduo, e para fazê-lo, não é necessário muita virtude e coragem.

  16. Não estou, de maneira nenhuma, dizendo que a Globo é o supra sumo do Universo. Nem a escória da humanidade! Aí é que tá: NENHUMA instituição humana é perfeita! Em qualquer uma, seja lá qual for, seja quanta influência tiver, vai haver tanto manipuladores e pessoas compromissadas com a verdade; tanto gente justa como corruptos imorais. Há de se buscar a melhora, sim, é claro, sempre, mas sempre vai ser assim, temos de fazer o máximo que conseguirmos. E nisso é tanto criticar a Rede Globo como criticar Caros Amigos e afins, como criticar QUAISQUER meios e veículos de comunicação, seja eles quais forem. Saber distinguir não os que são íntegros e os que não são, mas quando o são e quando não o são. Volto a dizer: existem pessoas boas e más em qualquer empresa porque existem pessoas boas e más no mundo. NUNCA se deve generalizar; isso é, reitero, cair em preconceito e ser fadado, realmente, a viver na ignorância e na alienação.

  17. Com certeza não é de impedir filmagens de incêndios que o mundo mais precisa, isso te asseguro.
    (“Virtude” e “coragem” sendo termos bem relativos, só usei estas palavras para ilustrar a minha falta de identificação).

  18. Mariana, por acaso aqui neste site que (não por acaso) se chama consciência, por enquanto a maioria dos comentários defende o “direito” da Globo de entrar onde bem entenda, rotulou de modismo uma atitude de soberania do estudante diante da empresa, demonstrou não ter a mais remota idéia do que seja alienação (não, Gustavo -sem sobrenome- alienado NÃO é quem não pensa com a própria cabeça, essa é uma categoria teórica que tem quase 200 anos de existência e não pode ser reduzida dessa forma – por isso vou falar sobre isso em outro momento).

    Sinceramente, isso pra mim mostra que as grandes corporações ainda conseguem sim criar grandes consensos em torno de idéias que não são do interesse da grande maioria da população.

    E, olha, Mariana, eu sou uma militante de esquerda há 10 anos (tenho só 26, tá?), então você pode até me dizer que não concorda com os termos “esquerda” e “direita” (isso não é nada original – o editor do Jornal Nacional, da Veja, a maioria dos professores da ECO e do resto da UFRJ, e todos aqueles que não têm interesse que de fato as coisas mudem radicalmente, porque estão bem do que jeito que estão, concordam em gênero, número e grau com você – mas não venha me dizer que é idiotice porque se vamos argumentar assim o nível do debate vai cair muito.

    Falar de “bem”, “boa vontade”, não explica muito. Discordo de você que as coisas vão mudar com uma “mobilização geral”. Você consegue se imaginar ou imaginar um morador de uma comunidade, se mobilizando ao lado da família Marinho, ou nem tão longe, dos editores da Globo, por alguma coisa?

    Não se trata de ser do bem ou não.

    Olha, eu não sou estudante da ECO. Sou estudante da Escola de Serviço Social da UFRJ. Mas conheço bastante a ECO e também os outros curso da universidade, em especial da praia vermelha. Sei que provavelmente você não conhece o meu curso (espero estar enganda, mas acredito que não) apesar de estarmos bem próximas.
    Então, lá nós falamos de direita e esquerda. Falamos de classes sociais. E você ficaria impressionada com a quantidade de pessoas que ainda fala sobre isso, apesar da posição hegemônica de que isso não existe mais. Pessoas sérias, que dedicam suas vidas não só a estudar sobre isso, mas a colocar isso tudo em prática pra realizar mudanças reais (sim, tudo isso que estamos discutindo aqui tem uma rebatimento na vida real, nas nossas ações, na política, na economia…)

    Felizmente, não é só no serviço social, não. Essas pessoas estão em todos os lugares, embora não sejam maioria (ainda!) se mobilizam e se organizam contra a hegemonia do senso comum.

    Tente perceber a sua volta as pessoas que mais se organizam e se mobilizam pra tentar lutar contra o que não está correto (será que você está entre eles? Será que já dedicou tempo e energia pra tentar uma transformação da realidade coletivamente, junto com outras pessoas?).
    Elas falam de esquerda e direita. Elas falam contra a Rede Globo. Falam sobre a existência de classes sociais e dos seus interesses antagônicos.

    E as pessoas que defendem a Globo, criticam esses supostos modismos (desculpe, mas é a maioria contra a Globo ou a moda ainda é gostar e assistir a Globo?), ficam com raiva dos que são de esquerda… esses fazem o que pelo mundo? Estudam bastante pra trabalhar na Globo e ganhar muito dinheiro, passam o semanas organizando um trote machista e opressor, e nem um segundo se organizando, por exemplo, porque várias turmas da ECO estão sem professor por conta da proibição da Dilma de dar posse pros que foram concursados…

    Isso não é uma grande coincidência. Todas as coisas têm uma razão de ser. É sempre bom ir a fundo pra descobrí-las, embora seja sempre mais fácil ficar só na superfície dos fenômenos.

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