Gilmar Mendes e seu arrogante desprezo pelo “sujeito na esquina” (por Celso Lungaretti)

“Bem-aventurados os humildes de
espírito, porque deles é o Reino dos Céus”
(“Sermão do Monte”, Mateus, V, 1-12)

Durante o Governo Sarney, quando se lançavam pacotes econômicos um após outro, percebi que, ao invés de me fiar nos doutos economistas e nos pretensiosos analistas da imprensa, era melhor perguntar ao sujeito na esquina o que resultaria de cada conjunto de medidas anunciado.

Falava com donos de lojas, gerentes de banco, sindicalistas, trabalhadores, consumidores. Juntando as peças do quebra-cabeças, ficava conhecendo a avaliação do mundo real e nela me baseava para fazer meus prognósticos. Nunca falhava.

Já a torre de marfim de Brasília ignorava o que todo sujeito na esquina sabia, como a quantidade imensa de cheques predatados em circulação. Então, certa vez as autoridades econômicas concederam um mísero punhado de dias para os correntistas depositarem todos os predatados que tinham em seu poder, caso contrário perderiam a validade.

Resultado: as agências bancárias do Brasil inteiro ficaram entupidas de clientes da manhã à noite (o expediente bancário teve de ser estendido). Nunca se vira tamanho caos — que o sujeito na esquina, obrigado a viver com os pés no chão, jamais causaria. Só os que têm a cabeça nas nuvens infligem tais transtornos aos cidadãos comuns.

O olímpico desprezo com que Gilmar Mendes acaba de se referir ao sujeito na esquina, como alguém para cuja opinião os juízes devem se lixar (“Vamos ouvir as ruas para saber o que o povo pensa saber? O que o povo pensa sobre a concessão do habeas corpus? Isso é um problema. Não se dá independência a um juiz para ele ficar consultando um sujeito na esquina”), é mais um motivo para que ele seja expelido o quanto antes da presidência do STF.

Platão já se referia ao senso inato de justiça do qual todo ser humano é dotado.

E a melhor prova disto é o fato de os sujeitos na esquina já terem percebido que Gilmar Mendes, ele sim, não deve ser levado a sério, pois padece de uma compulsão adquirida que o leva a sempre favorecer os poderosos, as posições conservadoras e os interesses reacionários.

Até o mais ignaro sujeito na esquina sabe que o primeiro requisito para um magistrado é a isenção, a imparcialidade. Exatamente o que Mendes jamais demonstrou ter.

Não é por acaso que que carrega o discutível apanágio de presidente mais contestado da história do Supremo.

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